09 junho, 2010

05 junho, 2010

04 junho, 2010

30 maio, 2010

01 abril, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 16


Apróximou-se e parou um pouco mais á frente. Senti-lhe, quando passou por mim uma certa crispação na cara, pousou a mota no descanso e enquanto tirava o capacete disse-me que tinha que vir mais devagar por causa do problema do travão traseiro. Eu pedi-lhe desculpa e argumentei com o facto de não ter conseguido resistir ao chamamento do alcatrão, curvas e paisagem a puxarem-me pela adrenalina que ainda foi alguma, de qualquer forma pareceu-me ter ficado um pouco chateado comigo. A questão passados cinco minutos estava sanada, batemos mais umas fotos, responde-mos com gestos de adeus a pessoal que passava nos carros e até em motos e
arrancámos para não parar mais até Barcelona. Entrámos nas suas avenidas largas por volta da seis e meia da tarde, depois de passar todas aquelas encruzilhadas de vias rápidas.
"Centro ciudad" era rumo.
A primeira coisa que fiz foi tirar o capacete tal como toda a gente que andava em motas e o Paulo fez o mesmo de seguida. Naquela altura em Espanha a lei era permissiva nesse aspecto, mas apenas dentro das localidades ou pelo menos a policia não chateava, e como é boa a sensação dos cabelos ao vento. No fundo e se tiver-mos um pouco de bom senso, todos nós sabemos do risco de uma queda numa situação do género e do que pode acontecer á moleirinha de uma pessoa, enfim riscos que corremos, ainda bem que não aconteceu nada, ali....
O centro de Barcelona são as Ramblas, de certa maneira fazem-me lembrar o jardim do centro Queluz onde morei embora num tamanho a quadriplicar comparativamente, e foi ai que chegamos eram mais ou menos sete da tarde, corremos as ruas paralelas para cima e para baixo devagarinho a observar o espéctaculo da movida no passeio central e não mais que isto, tinhamos ainda que procurar parque de campismo, fora o combinado já previamente para este dia devido á rápida delapidação da nossa bolsa de viagem á medida que o tempo ia passando.
Ficámos num parque em L'hospitalete perto do aeroporto, e assim que chegámos foi montar a tenda e ir ao super-mercado comprar o nesseçário para o jantar, de seguida tomar um bom banho de água quente.
O jantar prolongou-se até a garrafa de vinho acabar, depois apareceu a de medronho, uma tampinha para cada um e passado um quarto de hora estavamos os dois a cantar o fado dentro da tenda e a rir nos intervalos até que adormece-mos com o cansaço.
Acordei com os primeiros raios de sol a aquecer e iluminar a nossa tenda.

19 março, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 15


A "perna" de Valência a Barcelona decorreu sem sobressaltos de maior, o meu cabo de embraiagem resistiu mais um dia sem sinais de querer ceder. O facto de o usar o minimo possivel e apenas em caso de ultima necessidade contribuiu em muito para o alongar da sua esperança de vida util, no caso do Paulo, foi apenas manter uma condução prudente e atenta, dando um certo espaço entre mim e ele, suficiente para poder parar em segurança caso fosse necessário.
Albuixech, Castelló de la Plana, Penhiscola foram ficando para trás e estamos agora já bem dentro da provincia da Catalunha. Em todas as povoações sobressai a bandeira amarela e rubra ás listas horizontais intercaladas que a representam. Engraçado é o dialecto catatalão que apesar da distancia parece-me assemelhar-se mais em algumas palavras ao nosso português de Portugal que ao castelhano da Espanha, ainda hoje mantenho as minhas dúvidas de como por exemplo um galego consegue entender o que diz um andaluz ou vise-versa e isto para não falar dos catalães e muito menos dos bascos, ai mais vale tentar compreender um chinês, o que seria seguramente mais fácil ou melhor ainda, fazer um curso de mimica intensivo, ou não fosse a linguagem gestual um universo.
Em L'ampolla parámos para combustivel e super-mercado por cerca de meia-hora, eu aproveitei para "espertar" um pouco a mola do meu banco que vinha com a porca de afinação um tanto quanto solta fazendo-o molejar em demasia e tornando a posição de condução algo desconfortável. A diferença foi abismal, a partir daí, as dores nos rins que já me incomodavam há algum tempo obrigando-me a mudar de posiçao de condução por imensas vezes, estavam agora a desaparecer, o banco ficou mais riginho e portanto mais confortável.
Passá-mos Tarragona por volta das quatro e meia da tarde e ainda nos faltavam apróximademente uns 90km para chegar á grande cidade da cultura Ibérica, até aqui a viagem faz-se perante uma paisagem muito bonita, numa estrada de falésia sobranceira ao mar, sinuosa mas de bom piso, a fazer-nos lembrar o troço de Sevilha até Marbella. Por momentos esqueci-me que vinha com o Paulo e começei a dar-lhe mais "gáz" e a pilotar ao invez de conduzir. Em alguns declives mais longos o ponteiro do conta kilometros ultrapassava a indicação dos 120km/h e quase encostava ao batente do inicio (0km/h), o barulho do motor passou do ruido normal das explosões para um zumbido continuo, tal era a quantidade de rotações por minuto, quem disser que uma vespa não dá pica de conduzir é porque não sabe do que fala, garanto-vos.
Quando me lembrei do Paulo e olhei para trás para tentar ver onde vinha, nada, nem sinais. Encostei á berma acendi um cigarrito e esperei, esperei, esperei............ até que, lá apareceu o Paulo no seu ritmo inalteravel dos 60kms/h.

03 março, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 14


A boa disposição é sempre uma boa forma de se começar o dia e o inicío deste não podia ter sido mais auspiçioso, no entanto...
Parámos para o primeiro reabastecimento de combustivel pouco depois de termos entrado na Autovia v-21, povoação de Massalfassar, ai existem também umas pequenas praias com pontões a fazer lembrar os da Costa de Caparica e inacreditável, ondas. Ondas com um tamanho razoável (1metro, 1,5metro), e a rebentarem a partir de um pico central a cada uma delas para os dois lados formando um tubo perfeito num mar do tipo "glass", isto tudo sem ninguém na água. Meus amigos, aquela imagem ficou-me gravada na memória para que um dia que ali pásse numa surf treep ou algo do género a possa repetir nas mesmas condições mas agora comigo e uma prancha para compor o ramalhete.
Entretanto na bomba de gasolina o ritual do abastecimento. Como tinha-mos retirado os bancos dos penduras das duas vespas por troca por um excelente espaço de carga e uma vez que não leváva-mos ninguém, havia que desviar essa mesma carga para aceder ao bocal do depósito de combustivel. Para tal e no meu caso, isso obrigava-me a, sempre que reabastecia, ter que tirar todos os elástico que seguravam aquela amálgama que era a mochila o saco-cama e a tenda e voltar a repor tudo como estava após o abastecimento e por forma a não ir perdendo carga pelo caminho. No caso do Paulo era um pouco mais fácil, isto porque ele tinha conseguido colocar todos os haveres dentro de um daqueles sacos de depósito para mota e que ficam fixos apenas com uma fita ajustavel e "imans", parecia que tinha sido criado de propósito para aquela Vespa. O normal era, quando ele estivésse a terminar o seu próprio abastecimento eu estar pronto para começar o meu e assim poupáva-mos tempo. Havia também que não esquecer de se deixar um pouco de espaço no depósito para o que ainda se ia adicionar de óleo 2t e assim salvaguardar o desperdicio que seria o derramar de combustivel e/ou o trabalho que dava depois limpar a vespa daquele liquido cor de rosa gordoroso.
Prontos para arrancar para mais 150km de tirada até nova paragem.

08 fevereiro, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 13


Durante toda a noite senti o movimento de carros á volta de nós mas nem por isso me preocupei em tirar a cabeça de fora do saco-cama para tentar vislumbrar alguma coisa e saber o que se passava. Tentei dormir o melhor possivel a pesar de tudo, o Paulo fez o mesmo.
Sete da manhã e fui forçado a acordar com a intensidade da luz do sol que já tinha mais de meia hora de aparecer no horizonte. Olhei á volta e incrédulo, vi que estávamos práticamente no meio de um parque de estacionamento improvisado ao pé da areia da praia, muitos eram os rodados marcados no chão por todo o lado, fiquei pasmado com a sorte que tivemos em ninguém nos ter passado por cima sem querer, ficámos com a idéia que aquela era uma praia muito concorrida durante a noite por casais a namorar em carros e sabe-se lá que mais.
O nosso pequeno almoço foram baguetes de pão barradas com latinhas de doçe de laranja e pacotinhos de leite com chocolate, um luxo, do tipo pequeno almoço continental, a seguir foi vestir o fato de banho, ir a correr para a água e mergulhar, ficámos foi um bocado salgados e com o desconforto que isso provoca, apenas uma questão de hábito, de resto, soube muito bem aquele banho de mar matinal. Arrumá-mos o material em cima das motos em dez minutos, depois, pôr estas máquinas infernais a bombar é sempre uma emoção, gasolina aberta, fechar o interruptor de ar do carborador puxando o manipulo para fora, abrir ligeiramente o punho do acelerador, desligar luzes, confirmar na manete das mudanças a posição de ponto morto (muito importante) e "quicada". As primeiras explosões abafadas na panela de escape são como música para os meus ouvidos, imediatamente empurro o embolo do ar para dentro abrindo assim mais circulação ao ar e empobrecendo a mistura gasosa no carborador, agora sim, a rotação baixa um pouco e as batidas dos motores das duas vespas a trabalhar ao mesmo tempo em sintonia são uma verdadeira orquestra de percursão. Eu e o Paulo sem que tivésse-mos combinado nada começá-mos a fingir dançar uma espécie de "kuduro" ao som daquele ritmo, mais uma vez foi gargalhada geral, o pessoal que chegava naquele momento á praia e que reparáva-mos agora, estarem completamente fixos nas nossas figurinhas de bandoleiros de circo e no espetáculo que nós ali tinha-mos improvisado, riam-se também connosco e alguns tiraram-nos fotografias, só faltou irmos de seguida com um capaçete na mão pedir umas moedinhas.
Já a rolar estrada fora e passado um bom bocado eu e o Paulo ainda nos ria-mos do episódio do "kuduro".

04 fevereiro, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 12


A fome ia já apertando, por isso decidimos que antes de qualquer outra coisa ia-mos procurar um sítio para jantar. A ideia de um arroz á valenciana já vinha de trás, por isso, pará-mos assim que vi-mos um restaurante com esplanada a anunciar o prato a um preço razoável. Estaciona-mos as máquinas mesmo em frente de modo a ficarem ao alcance das nossa vistas, havia espaço para isso, e assim não havia necessidade de descarregar nada, só tinha-mos que dar uma olhadela de vez em quando, não fossem os amigos do alheio lembrarem-se que alguma das nossas coisas lhes dé-se jeito.
O arroz estava divinal e o branco fresco “La Rioja” que o acompanhou não se deixou ficar para trás, apenas o cafézinho é que não estava aquela coisa a que nós como bons portugueses que somos, estamos habituados, até a miúda que nos serviu era bonita e simpática, o Paulo já queria que ela viesse conosco, ela ria-se com um ar envergonhado ao mesmo tempo que lhe respondia que não podia, e das razões que a impossibilitavam, eu observava a cena e ria-me também com as “tangas” que o Paulo dava á valenciana Pilar, de seu nome. De facto, lata não lhe faltava.
As vespas até agora continuavam sem grandes problemas, não falando dos travões do Paulo nem do meu cabo de embraiagem, o ultimo que lhe montara continuava sem dar mostras de querer ceder apesar de tudo.
Ficou decidido durante o jantar, aproveitando o facto de estar uma noite cálida que mais parecia verão, que nesta, ia-mos dormir na praia. Os sacos-cama que trazia-mos iam finalmente ter uso, e além disso, podia-mos também poupar algum dinheiro para o resto. Despedimo-nos da Pilar com o coração aos saltinhos, não sei se por culpa dela ou do “La Rioja”, desejou-nos sorte para o que nos faltava da viagem, e, ou foi da minha vista ou eu vi mesmo uma lagriminha a escorrer-lhe pela face quando acenou.
Arrancámos para estrada já eram dez da noite. As vespas pegaram ambas bem com uma quicada, olhámos um para o outro e rimo-nos com ar confiante, o trabalhar redondinho e sem oscilações de rotação mantinha-se inalterado em ambas as vespas, e assim, arrancámos dali de estômago e coração cheios, á procura da primeira praia onde parar para prenoitar.
Logo á saída de Valência reparámos numa indicação para a direita, “Playa de la Patacona”, o Paulo que ia á frente na altura divergiu para lá e eu fui a trás. O nome desta praia tinha algo de similar com o de uma terra próxima á nossa Faro que se chama Patacão, até costuma-mos brincar com o nome que se dá ás meninas originárias dessa localidade.
Chegá-mos a um sitio amplo e arenoso na orla da praia, não via-mos mas ouvia-mos o marulhar das ondas na areia, fizemos sinal de ok um ao outro e ali abancámos. Devia-mos estar a uns 50metros se tanto da água, e o céu, que estava completamente limpo de nuvens, mostrava-nos agora a grandeza infinita do universo através dos milhares, talvez milhões de pequenos pontos de luz a que chama-mos estrelas. Aconchegados nos sacos-cama com as vespas por trás a proteger-nos do vento e a garrafa do medronho entre nós, filosofá-mos sobre imensas coisas durante quase uma hora, o dia seguinte, as avarias, a Pilar e o universo. Adormeci a olhar o céu e depois de ter exclamado qualquer coisa a respeito da imensa sensação de liberdade que estava a sentir naquele momento.

22 janeiro, 2010

Faro - San Remo - Faro...............continuação 11


Viajar de Vespa trás algumas grandes vantagens. Durante a condução, pode-se olhar para as paisagens, sentir os cheiros da terra, ver o sorriso das pessoas os tipos de arquitetura, e muitas vezes fazer introspecção. O pensamento voa como o vento e vai reflectindo tudo o que de novo vamos encontrando á nossa frente. Isto por uma razão muito simples, a de que não podemos falar com ninguém a não ser com nós próprios. Lembro que nesta altura, e confesso, ainda hoje, não uso "Intercom's" para falar com quem vai comigo de mota, embora reconheça que há ocasiões em que dão imenso jeito.

A minha Vespa começou a ficar com o punho do acelerador preso, deixou de rodar no sentido de baixar a rotação e simplesmente ficava onde eu o largava. Começou a funcionar assim como que um "overdrive". Eu tirava as mãos do volante e a Vespa mantinha uma rotação e velocidade constante (no plano e em recta). Gostei da nova situação e mantive o punho seco, sem o lubrificar até ao final da viagem. Tinha agora a nova possibilidade de fazer com as duas mãos coisas que até então não podia sem ter que parar, como por exemplo tirar fotografias, abrir a portinha do "ballon" esquerdo para tirar comida ou bebida ou o que fosse, apertar e/ou desapertar o capaçete, tirar e acender cigarros (incrivel) , além de outras coisas que nem vos conto, deixo isso ao critério da vossa própria imaginação (não aconselho ninguém a fazer o que acabo de descrever por razões óbvias).

Esta região da costa, é para mim a mais bonita até agora. A praia por baixo da falésia está em estado quase selvagem e a estrada serpenteia-a junto á areia quase ao nivel do mar, em alguns sitios fura a rocha fazendo tùneis que do outro lado realçam o azul forte do mar. O Paulo faz-me sinal para parar, encostei á direita na berma e ele um pouco mais á frente, aproximei-me, pousei a Vespa no descanço e perguntei.
- O que se passa?
O Paulo com cara de preocupado.
- Estou a ficar sem travão de trás, carrego no pedal e a mota não trava quase nada, acho que as máxilas estão a ficar vidradas.
Agora era o Paulo que estava com um problema, nada para nos obrigar a parar, mas a obriga-lo a ele a uma condução muito mais preventiva, tendo em conta as novas condições. O travão da frente deste tipo de Vespa antiga também não ajuda muito, funciona como se de um "Cassilheiro" se tratásse quando se lhe tira motor, ai ele afunda a proa nas águas. Parar? Só lá mais á frente. Uma coisa era certa não iamos ficar ali estacados a tentar resolver o problema dado o adiantado da hora, tinhamos era que chegar a Valência e procurar hostal para dormir o mais rápido possivel, queria-mos chegar a Barcelona no dia seguinte e não havia tempo a perder, Aproveitá-mos para bater umas fotos ao sitio que era lindissimo e arrancá-mos.
Entrámos em Valência ao entardecer.

15 janeiro, 2010

Faro - San Remo - Faro...............continuação 10


Nove da manhã e eu já estava cá em baixo de pequeno -almoço tomado a substituir o cabo da embraiagem uma vez mais enquanto o Paulo acabava de arrumar as suas coisas e pagava o Hostal . Deixei a parte final do trabalho para ele que já estava a ficar habituado á operação de encaixe do cabeçote na manéte.
Tinha-mos até agora tido sorte com a metereologia, nada de chuva, apenas um pouco de frio durante as manhãs, o São Pedro estava até agora a poupar-nos de molhas, e ainda bem. Mais uma vez o sol para alegrar a nossa “treep”.
O Paulo apareceu finalmente e acabou o trabalho que eu já tinha começado, quando de repente me chamou a atenção para o facto de ao contrário das outras bichas ( acelerador e travão da frente) a da embraiagem não ter terminal nenhum, coisa que até agora eu ainda não me tinha apercebido. Estava explicada a quebra prematura dos cabos de embraiagem. Os terminais das bichas são uns cilindrozinhos em alumínio que encaixam no final das mesmas e fazem com que os cabos ao serem actuados não roçem nelas centrando-os precisamente no meio, era isso o que estava a acontecer com o meu cabo de embraiagem, roçava na bixa e acabava por partir, como não tinha nenhum terminal para pôr ali, montei-o ainda assim na mesma , com a certeza que este também não ia durar muito, tinha era que, assim que visse um concessionário ou mesmo uma oficina de motos, parar para comprar um.
Resolvida temporariamente que estava a avaria do meu insecto, arrancá-mos de Cartagena ainda não eram 10horas da manhã. Planeámos para este dia chegar a Valência, era portanto uma etapa curta, cerca de 230km aproximadamente, pelo caminho iam ficar Múrcia e Benidorm. Nesta última, tinha-a no meu imaginário através da série espanhola “El verano azul” que me fez durante os meus tempos de miúdo, sonhar com aquele lugar de férias e aventuras de crianças e com o qual me identificava plenamente. Ainda hoje me lembro do Piranha e dos outros miúdos, a magicar as próximas tropelias, bons tempos.
Mais um abastecimento de combustível e mais uma paragem num super-mercado para comprar mantimentos para o dia, de resto, a viagem correu normalmente. Nesse dia a paragem para o almoço foi mais prolongada que o costume, o sitio em que ficámos também convidava a ficar um pouco mais, não só pela beleza, mas mais pelo abandono a que estava sujeito aquele lugar á beira-mar plantado, apesar da paisagem arrebatadora. Parecia que tinha por ali passado uma guerra, havia um edifício do inicio do século em ruínas que me pareceu ter sido a sede de uma qualquer armação de pesca agora desactivada, o telhado já não existia e á volta da casa erguiam-se velhas palmeiras como se de guardiões expectaculares do sitio se tratassem. Pela primeira vez cumprimentei o Mediterrâneo com um mergulho em cuecas a seguir ao almoço, soube-me tão bem. O Paulo também molhou os pés e aproveitou para lavar a faca e as restantes ferramentas daquela refeição no grande mar, de seguida dormimos uma “ciesta” á boa maneira dos “nuestros hermanos” que nos repôs novas energias e descanso para o que faltava até Valência.

26 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro.......cont.- 9


Acordámos os dois mais ou menos ao mesmo tempo para ai 11h30 da noite, não tinhamos sequer jantado antes de adormecer e a falta de calorias fazia-se sentir da mesma forma que a um leão depois de três dias sem comer, por isso decidimos sair para caçar, desculpem, jantar.
A roupa que tinhamos levado para a viagem limitava-se ao minimo possivel, obviamente por uma razão de espaço, se bem que, como vi mais tarde o amigo Batata, pendurando simpesmente as coisas á volta da vespa, ainda tinha dado espaço para a prancha de waveski e quem sabe o cão e o piriquito. Mas voltando á roupa, e devido a essa limitação, para andar de mota era sempre a mesma com a excepção das t-shirts descartaveis oferecidas pelo laboratorio do Paulo e da roupa interior claro que iamos lavando e secando em andamento á medida das necessidades, há noite para sairmos para jantar é que apareciam sempre da "cartola" umas calças e uma camisa lavadas.
Démos por nós vestidos de betinhos no meio da Calle Mayor embasbacados a olhar para a beleza das cartaginezas e para o movimento das "terrazas" cheias de gente jovem e alegre a antecipar o fim de semana.
Jantámos uma paella acompanhada de umas belissimas "cañas" e rimos-nos das peripécias de até agora. A viagem estava a correr sem grandes sobresaltos não falando do problema do cabo de embraiagem da minha vespa que teria de montar no dia seguinte antes da partida. Felizmente e anteçipando possiveis contratempos com cabos tinhamos levado bastantes como "spares" não fosse este veiculo todo ele comandado através destes preciosos elementos mecânicos originários da engenharia aeronautica.
No regresso ao hostal passamos junto ao Teatro Romano ainda bem perservado e a fazer-nos lembrar da antiguidade e importancia que outrora esta cidade teve no dominio e conquista do mar Mediterraneo para o seu povo.

20 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro.............continuação-8


Começámos a apanhar o tráfego normal de entrada em Almeria para aquela hora, o andamento que já não era grande diminuiu ainda mais. Decidimos passar a cidade sem parar, é que além de já estar a ficar tarde, ainda nos faltavam cerca de 160kms até ao final da etapa de hoje, além disso este não era de certeza um local que nos atraísse muito. Parámos apenas porque precisava-mos de combustível, e de uma bomba de gasolina não há muito para dizer.
As estufas continuam ainda por mais alguns quilómetros para estragar a vista mas de repente á nossa direita, lá está ele, o nosso fiel companheiro de viagem Mediterrâneo sempre calmo, a transmitir-nos essa calma a nós também. O sol de final de tarde dá-nos nas costas e empresta uma coloração ocre aquela paisagem, é um quadro bonito de se ver, as nossas sombras no alcatrão vão aos poucos e poucos aumentando de tamanho á nossa frente á medida que o sol fica mais baixo.
De repente senti um estalido na manete da embraiagem, e depois outro. Até que, mais uma vez o cabo se partiu. Alguma coisa de errado se passava ali. Era impossível um cabo de embraiagem partir-se ao fim de um dia de uso, havia ali alguma coisa de errado, e para mim, a máxima de qualquer mecânico que é – O material tem sempre razão ­– era a única que neste caso era válida. Mesmo assim continuámos sem parar, ao fim de pouco tempo e com um pouco de treino consigo por as mudanças sem que pareça que o faço sem embraiagem (coitada da caixa de velocidades).
Entramos em Cartagena já de noite, nos semáforos, quando abriam, eu tinha que dar primeiro balanço com os pés de modo a que a mota começasse a andar e só depois é que engrenava a segunda velocidade. Com a mota aos saltos no arranque, eu fazia um esforço enorme para não cair nem ir contra nenhum carro, o Paulo lá a trás ria-se ás gargalhadas. Parámos na parte velha da cidade junto ao porto onde existem alguns hostais para passar a noite. Ficámos no primeiro que nos apareceu e que por acaso até nem era mau, só não tinha casa de banho no quarto, as motas ficaram guardadas numa pequena garagem o que também era importante. Eu estava completamente esgotado e suponho que o Paulo também, tinha sido até agora a etapa mais longa, e assim que chegámos ao quarto aterrámos nas camas e adormecemos.

08 novembro, 2009

Faro- San Remo- Faro ..............continuação-7


As povoações suçedem-se uma ás outras, mas só temos a verdadeira noção disso quando olhamos para o mapa para saber qual é o nome da próxima, porque na verdade quase não há separação entre elas, tal é a carga de construção desenfreada. Assim uma espécie de Quarteira
gigantesca, que nunca mais acaba, foi com essa a sensação que fiquei, perdoen-me os arquitectos paisagistas portugueses e espanhois que projectaram ou não estes...........sitios!?
Torremolinos depois Málaga, Almuñecar, Motril. O cenário não muda muito, tentamos evitar sempre o centro das povoações, para não perdermos tempo no transito, mas o trajecto na maioria das vezes é por a N-340 alternando com a autovia do V centenário, já nada como a já longinqua estrada que nos trouxe de Sevilha a Marbella, agora o trânsito é a triplicar e obriga-nos a fazer o mesmo com a atenção á condução, um acidente era o que menos queriamos que nos acontecesse, lagarto, lagarto.
Por fim a costa faz uma especie de peninsulazinha, assim mais ao geito do continente indiano mas em ponto pequeno, considerando as montanhas que lhe são sobranceiras uns himalaiazinhos, e ai, na planicie que vai dos sopés ao mar estendem-se até se deixar de ver uma gigantesca mancha de plástico brilhante ao reflectir o sol, que compõe as estufas das plantações de melões e outras das mais variadas espécies horticulas. Um atentado á paisagem e á natureza diria eu, muito embora, já por imensas vezes, tenha também degostado estas iguarias vegetais sem sequer pensar ou me preocupar com o assunto.
É um facto que hoje, ao mesmo tempo que escrevo e passados tantos anos de ter feito esta viagem, sei que a água que era extraida de furos naquela região se tornou salobra impossibilitando o sua anterior função mais básica, o consumo humano e a rega de todas aquela estufas, devido não só á exploração desmesurada mas também á seca prolongada e ao aquecimaneto global que a tem vindo a provocar.
Almeria finalmente no horizonte.

07 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro...........continuação.-6


A coisa não foi tão fácil como parecia á partida, o cabo entrou bem pela bicha, mas quando chegou a altura de fixar o cabeçote de chumbo á manete é que a porca torceu o rabo, não havia meio, e eu já começava a transpirar, ainda por cima espetei duas vezes um filamento de aço do cabo no dedo (e que dor), começava já a desesperar. Sujo de óleo, com uma dor lancinante no dedo indicador direito, cansado e ainda por cima com uma fome capaz de comer um urso, resolvi parar para acender um cigarro e esperar pelo Paulo que tinha muito mais jeito e minúcia com as mãos do que eu, que apesar dos conhecimentos de mecânica, a falta de habilidade para este tipo de trabalhos tornava-se agora mais do que evidente. E de repente o zumbir da vespa do Paulo.
- Paco, já arranjei hotel, três estrelas e não é caro, já mudas-te o cabo??
- Não consegui acabar o trabalho, vê se me consegues encaixar o cabeçote na manete que eu desisto.
O Paulo, como num passe de mágica e em não mais que dois minutos, acabou aquilo que eu há mais de meia hora tentava sem conseguir.
- Pronto já está – disse o Paulo. Voltei a arrumar as ferramentas na mota e seguimos para o hotel , e eu mais morto que vivo.
Foi reconfortante poder tomar banho , jantar e descansar numa cama, depois de 400kms em cima de uma vespa.
Em Marbella já se cheira o verão por esta altura do ano, vêm-se muitos turistas em fato de banho e sente-se a descontracção das pessoas livres das responsabilidades do dia a dia. A arquitectura do tipo mediterrânico encontra aqui na “Costa del sol”o seu expoente máximo. Condomínios fechados que deixam adivinhar grandes fortunas, algumas de mafiosos de Leste, e outras conseguidas de forma também menos licita, ao lado de outras pertencentes a gente do cinema, da politica, etc.
Á noite as ruas e os bares fervilham de vida, gente bem disposta á procura de copos e divertimento. Nós queríamos era descansar, no dia seguinte tínhamos mais uma grande jornada até Cartagena, onde nos propunha-mos chegar se tudo corre-se bem.
E assim foi, 08h00 da manhã e estava-mos nós prontos para arrancar junto ás motas já com alguns curiosos a tentar descortinar de onde vinha-mos e para onde ia-mos nós com aquelas coisas.
O hotel foi bom mas foi caro para as nossas possibilidades, se continuasse-mos a ficar instalados assim, o dinheiro para a viagem não ia chegar nem a meio, assim decidimos que a partir daqui ficaríamos em hostal (o equivalente ás nossas pensões).
Sai-mos de Marbella ainda não eram 09h00, o mar Mediterrâneo á direita parecia mais um lago gigantesco, as praias são de uma areia quase preta, o que, para quem está habituado ás praias portuguesas e algarvias em especial, retira imediatamente qualquer vontade de um mergulho ou outra qualquer actividade náutica. Á esquerda, a já habitual cordilheira montanhosa e o que penso serem as abas da Sierra Nevada a rasgar o céu.

16 março, 2009

Faro - San Remo - faro.......... continuação-5


Durante as paragens comparávamos o piso dos pneus das duas vespas para ver qual dos dois tinha ido mais longe na inclinação a curvar. Constatávamos que ambas tinham usado todo o piso disponivel até ao seu limite. Esse facto, que nos dava um certo gozo, confesso, tirava-nos também o argumento para continuarmos a discussão de qual de nós se inclinava mais quando em curva.
-Mais que isto, só mesmo o Mamola - disse o Paulo. Mais uma vez gargalhada até doer a barriga.
Uma dessas paragens que fizemos foi para nos refrescarmos numa fonte junto á berma. Mergulhámos a cabeça completamente na água e deixámos que as gotas frescas nos escorressem pescoço a baixo entrando pela gola das camisolas, o que nos dava uma verdadeira e agradável sensação de alivio depois de horas a fio a rolar debaixo do imperdoavel sol andaluz. Dali, conseguia-se já vislumbrar por entre os vales a linha azul do mar no horizonte e sentir a sua brisa fresca. As casinhas do estilo mediterrânico que pintalgam a encosta da serra até ao sopé formam pequenos aglomerados e dão um ar muito pitoresco e caracteristico a toda aquela região.
Finalmente San Pedro de Alcantara, Marbella a seguir, ai seria o final do nosso primeiro dia "on the road". Parados nos semáforos há entrada cidade, açionei a embraiagem para engrenar a 1ª velocidade á passagem para a luz verde e senti um estalido da respéctiva manéte. O cabo de embraiagem estava a partir-se e eram já visiveis os filamentos resultantes do desfiamento.
Passagem para a 2ª velocidade e fiquei sem o comando da embraiagem, o cabo tinha acabado de entregar a alma ao criador, ainda por cima no melhor sitio possivel, no meio do trânsito de Marbella. O Paulo apercebendo-se de que algo no meu binómio não estava bem, encostou no passeio á minha frente.
-o que é que se passa? - perguntou.
-acabei de ficar sem embraiagem, o cabo partiu-se junto á manéte.
-Boa. Fica aqui enquanto vou procurar hotel, tenta trocar o cabo até eu voltar.
E arrancou numa nuvem de fumo desaparecendo por entre o tráfego de hora de ponta da cidade.
Ali fiquei eu a tentar mentalizar-me para o que tinha que fazer.
Tirar toda a carga de cima da moto, apanhar as ferramentas, começar a desmontar a manéte, depois teria que literalmente deitar a moto no chão para poder ter açesso ao bloqueador do cabo junto ao embolo da embraiagem que fica por debaixo do motor, começar então a retira-lo puxando-o cuidadosamente com um pequeno alicate sem contudo fazer com que a respectiva "bixa"(tubo fininho em aço espiralado revestido a plástico e que encaminha todos os cabos que atravessam o chassis da vespa de ponta a ponta) viesse atrás o que seria uma verdadeira desgraça dada a minha manifesta falta de jeito para a mecânica, e voltar a refazer toda a operação inversa para colocar o novo cabo. Não parecia dificil, mas que ia dar algum trabalho, há isso ia.
Já mais mentalizado, que remédio, iniciei a operação.

11 março, 2009

Faro - San Remo - Faro...............continuação-4


De Faro a Sevilha são uns 200kms aproximadamente, e até ali tinhamos completado os primeiros 50kms da nossa odisseia, estávamos na fronteira com "nuestros hermanos". Ai, o rio Guadiana corre lento para a foz em Vila Real de Santo António levando consigo pequenos veleiros de turistas que o sobem e descem até á antiquissima e montante cidade de Mértola, onde é ainda possivel de ser navegado.
Partimos dali em direção a Ayamonte a fim de abastecer as vespas de combustivel e seguir a velha estrada n-431 que corta a planicie andaluza até á sua capital, a bela e castiça Sevilha.
Os abastecimentos de combustivel tornaram-se num ritual. Abrir o depósito da vespa, atestá-lo de gasolina, verificar a quantidade abastecida a fim de misturar o respéctivo óleo para motores a dois tempos. Para isso usavamos o nosso útil copinho graduado da Piaggio que enchiamos sempre com um pouco de óleo a mais do que estava marcado na tabela, assim evitavamos possiveis agarranços do motor apenas com o inconveniente de este se tornar um pouco mais fumarento. Do mal o menos.
As povoações iam aos poucos ficando para trás. Primeiro Lepe onde as plantações de morangueiros se extendendem a perder de vista e os vendedores vêm para a beira da estrada com montes de caixas dos vermelhos e carnudos frutos, depois Cartaya, Gibraleon......Huelva.
Em cada paragem que faziamos para descansar, abastecer ou fumar um cigarro, as pessoas olhavam-nos primeiro com curiosidade depois incrédulas, tentando imaginar de onde e para onde iriamos nós com aquelas velhissimas vespas. Algumas riam-se não acreditavam e pensavam que estavamos na brincadeira, outras davam-nos a maior força, tiravam-nos fotografias para a posteridade e desejavam-nos sorte para tamanha aventura ao que agradeciamos.
La Palma del Condado, Sanlúcar e finalmente Sevilha. Decidimos não parar em Sevilha, o transito é intenso de carros e motos as quais grande percentagem são vespas, vespinos e muitas outras scooters com todo o tipo de pessoas, desde o executivo engravatado até á mãe que leva o filho á escola. Passámos as avenidas sevilhanas largas e paralelas ao rio Guadalquivir com a altaneira torre d'el oro, a plaza de toros e o estádio do Betis. Seguimos em direção a sul através da estrada n-IV que se dirige para Cádiz e em "Dos Hermanas" voltamos á esquerda com a finalidade de cortarmos caminho através das A-374/375 até á turistica Marbella passando pela histórica cidade da época romana de "Ronda".
Eram já umas duas da tarde quando a barriga começou a dar horas, fiz sinal disso ao Paulo que percebendo imediatamente concordou, e assim, parámos no primeiro sítio possivel que nos apareceu, uma ceara de girassois. Ali mesmo montámos o estaminé. O Paulo sacou de uma lata de atum, de uma cebola que migou com a ajuda do imprescindivel canivete suiço, e, juntamente com o azeite que levei da produção do meu pai, uns pedaços de pão, azeitonas e umas "san miguel" que tinhamos comprado no último abastecimento, assim confessionou um petisco digno dos deuses. Tudo isto com vista para uma mancha colorida e gigantesca de girassóis que não sei porque razão me puxou á ideia a inspiração do pintor holandês Van Ghog e uma das suas mais emblemáticas obras, tudo isto de baixo de um céu azul forte a perder de vista com as nossas vespas em fundo.
- Se o pintor visse isto acho que refazia o quadro e incluia agora também as vespas.
Disse eu para o Paulo, e rimos-nos quase até fartar.
Nutridos, saciados e fumados seguimos viagem rumo a sul.
Em Ronda recorda-me o contraste da bem preservada ponte romana com o nauseabundo "rio" ou seria esgoto que por debaixo passava, dos turistas que para matar a curiosidade da belissima paisagem que dali se aprecia, apertavam com a mão o nariz tentando inutilmente assim evitar o mais que evidente mau cheiro.
A estrada até Marbella é o que mais se aproxima de um sonho para qualquer motociclista ou vespista que se preze, larga, com um alcatrão liso mas abrasivo que nos inspira segurança, bem equipada de sinais de trânsito assim como das faixas delimitadoras pintadas no chão, e sobretudo com curvas que passado pouco tempo nos obrigam mais a pilotar curvando com os aventais a poucos milimetros de roçar o chão, do que a conduzir, ao mesmo tempo que se usufrui de uma paisagem de montanha que quase nos corta a respiração.






to be continued....................................

01 março, 2009

Faro - San Remo - Faro...............continuação-3


Chegado o dia "D", deviamos estar em finais de Abril inicio de Maio, 07h da manhã, o sol ainda apenas tinha despontado num céu de negro a azul muito claro, e fria, frissíma manhã aquela. O Paulo chegou a minha casa com a vespa carregada (qual camelo de caravana) prontissimo para arrancar, só faltava mesmo o Batata que vinha de Lisboa. Previamos que chegá-se dai a pouco, devia naquela altura já ter uns bons kilometros em cima, pensámos nós, nisto quando toca o telemóvel do Paulo. Era o nosso amigo, tinha um problema mecânico grave que o impossibilitou de se nos juntar em Faro. Ia, segundo ele, encontrar-nos em San Remo apanhando boleia com a malta do Vespa Club de Lisboa que partiam mais tarde, uma vez que as vespas deles nao iam a rolar, mas sim dentro de uma carrinha para as quais tinham alugado.
Decidimos portanto arrancar sem o nosso amigo. A viagem ainda não tinha começado e já havia uma baixa.
E assim demos inicío a esta aventura que foi partir de Faro até San Remo sempre com a costa mediterrânica á nossa direita num dia belissimo embora frio. Rolávamos na casa dos 70km/h, eu á frente, uns metros mais atrás o Paulo que trazia um sorriso de felicidade postado na boca, apesar da ainda gélida temperatura. A vespa do Paulo era verde escura metalizada do tipo british green, das três a menos potente, uma 125cc que comprou a um vizinho ainda em muito mau estado, mas que ainda assim restaurou e cujo resultado foi no minimo excelente.
Cedo nos apercebemos que indo eu á frente, a velocidade do conjunto das duas vespas podia ser optimizada, ou seja, o Paulo, aproveitando o cone de sucção de ar por mim criado (vortex), conseguia subir a velocidade dele para mais uns 5km/h, eu só tinha que o controlar no espelho de modo a não acelerar de mais e assim não descolar dele. Como uma formação de bombardeiros, pensei eu lembrando-me do Batata. E assim fomos até ao final.
Chegámos á ponte sobre o rio Guadiana onde parámos para fazer as ultimas fotografias da praxe em sólo português e nos despedirmos do nosso querido país com um brinde de medronho do Algarve que o Paulo tinha trazido de São Marcos da Serra, (terra encravada na serra algarvia de Monchique) numa garrafinha metálica de bolso. Dai em diante seria com medronho que celebrariamos o final de cada dia.





to be continued ..................................

16 janeiro, 2009

Faro - San Remo - Faro...............continuação-2


Ir de Faro a San Remo na Itália e vir numa Vespa parecia ser uma perfeita loucura, por outro lado, há já muito tempo que uma viagem assim não me saia da cabeça. Liberdade pura. Poder fazer-me á estrada de saco-cama amarrado á mota, sem horas para chegar, a oportunidade de conhecer novas paisagens, novas gentes, novas culturas e sobretudo a sensação de liberdade que tudo isso somado proporcionaria, não podia perder algo assim.
Tinha um mês para preparar tudo. Em primeiro lugar comprar a mota, depois arranjar pelo menos quinze dias de agenda livres. Sim porque para uma viagem assim, ainda por cima num veiculo tão rápido (risos) nunca menos de duas semanas seria o tempo necessário, uma semana para lá, e outra para o regresso. Parecia não ser dificil de conseguir, havia ainda que planear o trajecto, os pontos de paragem para pernoitar e ainda selecionar todos os objectos, roupas, ferramentas, alimentação, enfim tudo o que fosse extritamente imprescindivel para que uma viagem desta natureza tivesse êxito.
No trabalho não foi difiçil conseguir os dias, tinha tempo de férias para gozar, e do planeamento de horários foi-me dito que não havia qualquer problema quanto ao gozo dos dias que me eram devidos naquela altura, estava portanto dado o primeiro passo, faltava agora comprar a mota.
Em Faro existe ainda hoje uma oficina/stand que tem a representaçao da marca Vespa na cidade, era ali que eu me deveria dirigir para tentar encontrar a mota eleita para a minha aventura, dinheiro por enquanto não era o problema, tinha acabado de receber o meu subsidio de férias o que dava para comprar a mota e ainda sobrava para a viagem.
Foi como que um amor á primeira vista, ao entrar no stand deparei-me com três vespas acabadas de restaurar, mas só uma delas me atraiu, talvez pela cor ou mesmo pelo estado geral da mota.
-É esta - disse para mim mesmo. A pintura estava nova, de cor cinzenta metalizada, farol redondo e dois selins separados, tinha uma bagageira/porta roda suplente atrás do banco do pendura o que lhe dava um ar ainda mais "retro" o ano de fabrico remontava a 1973 embora não parecê-se dado o seu bom estado de conservação geral. Era do modelo 150 sprint v.( veloce) que segundo dizem os expert são das mais fiáveis e, como o próprio nome indica, têm uma boa velocidade de ponta(120km/h + - , constatei mais tarde) - era isto mesmo que eu estava a precisar - conclui, era a perfeição em duas rodas, ideal para a grande aventura que se seguiria. O motor estava bom, tinha desde os zero kms pertencido a um policia agora reformado. Imaginei as viagens e/ou aventuras que também ele tivesse possivelmente vivido naquela que para mim foi a companheira incansavel de muitos dias de viagem na travessia da enorme Peninsula Ibérica e de toda a costa sul de França.






to be continued......................

14 janeiro, 2009

Faro- San Remo (Italia)- Faro, de vespa 150 sprint.-1


Acordei com o telemóvel a tocar sem parar. Esforçei-me por abrir os olhos, a luz entrava forte no quarto, com o sol algarvio da manhã já tardia a espreitar por entre as cortinas.
Atendi, era o Paulo.
_Oi Paulo, bom dia.
_Bom dia, tá tudo?
_Ya, estava a dormir mas tá-se bem, já vão sendo horas de me erguer da cama, fala.
_ Paco tive uma idéia.
_Sim conta.
_Que tal irmos ao Eurovespa em San Remo.
_Pá, tu tás maluco? de vespa? eu nem sequer tenho vespa.
_Mas podias comprar uma e irmos os três, ao menos fazias-nos companhia na viagem.
_Os três? quem é o terceiro?
_O "Batata".
O "Batata" de facto chamava-se Victor, mas tinha esta alcunha que os miúdos do bairro lhe colaram à alma, vai-se lá saber porquê, e assim para sempre ficou, o "Batata", um puto fixe. Tinha uma vespa 150 sprint cinzenta de banco corrido com o farol redondo, muito velha (O Bombardeiro como ele próprio lhe chamava). Os buracos na chapa provocados pela corrosão eram evidentes, mas o motor........o motor, esse estava como um relógio, tinha sido reparado
por um amigo nosso há pouquíssimo tempo, estava novo.
_Bom Paulo, deixa-me pensar no assunto, dá-me algum tempo para ver se tenho disponibilidade para isso lá no trabalho. Depois digo-te alguma coisa.
_Ok. Mas vê isso rápido. Falta apenas um mês para a partida.
_Okidoki.






to be continued.............................................

12 março, 2008

A raposinha do Ludo.


Deveriam ser umas 23h30 quando sai do trabalho para casa. Ao passar a cancela do "Securitas" nem queria acreditar no que os meus olhos viam, uma raposa, sim uma raposinha selvagem, ali estava ela com um ar assustado sentada.


Parei o carro mas mesmo assim não fugiu, ali continuava ela sentada a olhar para mim. Sentei-me também eu no chão a uns dois metros de modo a não a assustar e estive uns bons cinco minutos a olhar para ela e ela para mim.


O "Securitas" aproximou-se também, mais ainda do que eu, e estendeu-lhe a mão que segurava uns pedacinhos de figos secos que ele próprio teria trazido para enganar a fome durante o tempo de vigília. Ela aceitou pegando nos pedacinhos directamente da mão do homem com o focinhito e engolindo esfomeada até já não haver mais. Foi embora para de onde veio passados uns minutos.


Esgueirando-se, numa passada manca mas rápida, desapareceu no breu da noite.


Deixo-vos a foto tirada com o telemóvel com que registei o momento.