26 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro.......cont.- 9


Acordámos os dois mais ou menos ao mesmo tempo para ai 11h30 da noite, não tinhamos sequer jantado antes de adormecer e a falta de calorias fazia-se sentir da mesma forma que a um leão depois de três dias sem comer, por isso decidimos sair para caçar, desculpem, jantar.
A roupa que tinhamos levado para a viagem limitava-se ao minimo possivel, obviamente por uma razão de espaço, se bem que, como vi mais tarde o amigo Batata, pendurando simpesmente as coisas á volta da vespa, ainda tinha dado espaço para a prancha de waveski e quem sabe o cão e o piriquito. Mas voltando á roupa, e devido a essa limitação, para andar de mota era sempre a mesma com a excepção das t-shirts descartaveis oferecidas pelo laboratorio do Paulo e da roupa interior claro que iamos lavando e secando em andamento á medida das necessidades, há noite para sairmos para jantar é que apareciam sempre da "cartola" umas calças e uma camisa lavadas.
Démos por nós vestidos de betinhos no meio da Calle Mayor embasbacados a olhar para a beleza das cartaginezas e para o movimento das "terrazas" cheias de gente jovem e alegre a antecipar o fim de semana.
Jantámos uma paella acompanhada de umas belissimas "cañas" e rimos-nos das peripécias de até agora. A viagem estava a correr sem grandes sobresaltos não falando do problema do cabo de embraiagem da minha vespa que teria de montar no dia seguinte antes da partida. Felizmente e anteçipando possiveis contratempos com cabos tinhamos levado bastantes como "spares" não fosse este veiculo todo ele comandado através destes preciosos elementos mecânicos originários da engenharia aeronautica.
No regresso ao hostal passamos junto ao Teatro Romano ainda bem perservado e a fazer-nos lembrar da antiguidade e importancia que outrora esta cidade teve no dominio e conquista do mar Mediterraneo para o seu povo.

20 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro.............continuação-8


Começámos a apanhar o tráfego normal de entrada em Almeria para aquela hora, o andamento que já não era grande diminuiu ainda mais. Decidimos passar a cidade sem parar, é que além de já estar a ficar tarde, ainda nos faltavam cerca de 160kms até ao final da etapa de hoje, além disso este não era de certeza um local que nos atraísse muito. Parámos apenas porque precisava-mos de combustível, e de uma bomba de gasolina não há muito para dizer.
As estufas continuam ainda por mais alguns quilómetros para estragar a vista mas de repente á nossa direita, lá está ele, o nosso fiel companheiro de viagem Mediterrâneo sempre calmo, a transmitir-nos essa calma a nós também. O sol de final de tarde dá-nos nas costas e empresta uma coloração ocre aquela paisagem, é um quadro bonito de se ver, as nossas sombras no alcatrão vão aos poucos e poucos aumentando de tamanho á nossa frente á medida que o sol fica mais baixo.
De repente senti um estalido na manete da embraiagem, e depois outro. Até que, mais uma vez o cabo se partiu. Alguma coisa de errado se passava ali. Era impossível um cabo de embraiagem partir-se ao fim de um dia de uso, havia ali alguma coisa de errado, e para mim, a máxima de qualquer mecânico que é – O material tem sempre razão ­– era a única que neste caso era válida. Mesmo assim continuámos sem parar, ao fim de pouco tempo e com um pouco de treino consigo por as mudanças sem que pareça que o faço sem embraiagem (coitada da caixa de velocidades).
Entramos em Cartagena já de noite, nos semáforos, quando abriam, eu tinha que dar primeiro balanço com os pés de modo a que a mota começasse a andar e só depois é que engrenava a segunda velocidade. Com a mota aos saltos no arranque, eu fazia um esforço enorme para não cair nem ir contra nenhum carro, o Paulo lá a trás ria-se ás gargalhadas. Parámos na parte velha da cidade junto ao porto onde existem alguns hostais para passar a noite. Ficámos no primeiro que nos apareceu e que por acaso até nem era mau, só não tinha casa de banho no quarto, as motas ficaram guardadas numa pequena garagem o que também era importante. Eu estava completamente esgotado e suponho que o Paulo também, tinha sido até agora a etapa mais longa, e assim que chegámos ao quarto aterrámos nas camas e adormecemos.

08 novembro, 2009

Faro- San Remo- Faro ..............continuação-7


As povoações suçedem-se uma ás outras, mas só temos a verdadeira noção disso quando olhamos para o mapa para saber qual é o nome da próxima, porque na verdade quase não há separação entre elas, tal é a carga de construção desenfreada. Assim uma espécie de Quarteira
gigantesca, que nunca mais acaba, foi com essa a sensação que fiquei, perdoen-me os arquitectos paisagistas portugueses e espanhois que projectaram ou não estes...........sitios!?
Torremolinos depois Málaga, Almuñecar, Motril. O cenário não muda muito, tentamos evitar sempre o centro das povoações, para não perdermos tempo no transito, mas o trajecto na maioria das vezes é por a N-340 alternando com a autovia do V centenário, já nada como a já longinqua estrada que nos trouxe de Sevilha a Marbella, agora o trânsito é a triplicar e obriga-nos a fazer o mesmo com a atenção á condução, um acidente era o que menos queriamos que nos acontecesse, lagarto, lagarto.
Por fim a costa faz uma especie de peninsulazinha, assim mais ao geito do continente indiano mas em ponto pequeno, considerando as montanhas que lhe são sobranceiras uns himalaiazinhos, e ai, na planicie que vai dos sopés ao mar estendem-se até se deixar de ver uma gigantesca mancha de plástico brilhante ao reflectir o sol, que compõe as estufas das plantações de melões e outras das mais variadas espécies horticulas. Um atentado á paisagem e á natureza diria eu, muito embora, já por imensas vezes, tenha também degostado estas iguarias vegetais sem sequer pensar ou me preocupar com o assunto.
É um facto que hoje, ao mesmo tempo que escrevo e passados tantos anos de ter feito esta viagem, sei que a água que era extraida de furos naquela região se tornou salobra impossibilitando o sua anterior função mais básica, o consumo humano e a rega de todas aquela estufas, devido não só á exploração desmesurada mas também á seca prolongada e ao aquecimaneto global que a tem vindo a provocar.
Almeria finalmente no horizonte.

07 novembro, 2009

Faro - San Remo - Faro...........continuação.-6


A coisa não foi tão fácil como parecia á partida, o cabo entrou bem pela bicha, mas quando chegou a altura de fixar o cabeçote de chumbo á manete é que a porca torceu o rabo, não havia meio, e eu já começava a transpirar, ainda por cima espetei duas vezes um filamento de aço do cabo no dedo (e que dor), começava já a desesperar. Sujo de óleo, com uma dor lancinante no dedo indicador direito, cansado e ainda por cima com uma fome capaz de comer um urso, resolvi parar para acender um cigarro e esperar pelo Paulo que tinha muito mais jeito e minúcia com as mãos do que eu, que apesar dos conhecimentos de mecânica, a falta de habilidade para este tipo de trabalhos tornava-se agora mais do que evidente. E de repente o zumbir da vespa do Paulo.
- Paco, já arranjei hotel, três estrelas e não é caro, já mudas-te o cabo??
- Não consegui acabar o trabalho, vê se me consegues encaixar o cabeçote na manete que eu desisto.
O Paulo, como num passe de mágica e em não mais que dois minutos, acabou aquilo que eu há mais de meia hora tentava sem conseguir.
- Pronto já está – disse o Paulo. Voltei a arrumar as ferramentas na mota e seguimos para o hotel , e eu mais morto que vivo.
Foi reconfortante poder tomar banho , jantar e descansar numa cama, depois de 400kms em cima de uma vespa.
Em Marbella já se cheira o verão por esta altura do ano, vêm-se muitos turistas em fato de banho e sente-se a descontracção das pessoas livres das responsabilidades do dia a dia. A arquitectura do tipo mediterrânico encontra aqui na “Costa del sol”o seu expoente máximo. Condomínios fechados que deixam adivinhar grandes fortunas, algumas de mafiosos de Leste, e outras conseguidas de forma também menos licita, ao lado de outras pertencentes a gente do cinema, da politica, etc.
Á noite as ruas e os bares fervilham de vida, gente bem disposta á procura de copos e divertimento. Nós queríamos era descansar, no dia seguinte tínhamos mais uma grande jornada até Cartagena, onde nos propunha-mos chegar se tudo corre-se bem.
E assim foi, 08h00 da manhã e estava-mos nós prontos para arrancar junto ás motas já com alguns curiosos a tentar descortinar de onde vinha-mos e para onde ia-mos nós com aquelas coisas.
O hotel foi bom mas foi caro para as nossas possibilidades, se continuasse-mos a ficar instalados assim, o dinheiro para a viagem não ia chegar nem a meio, assim decidimos que a partir daqui ficaríamos em hostal (o equivalente ás nossas pensões).
Sai-mos de Marbella ainda não eram 09h00, o mar Mediterrâneo á direita parecia mais um lago gigantesco, as praias são de uma areia quase preta, o que, para quem está habituado ás praias portuguesas e algarvias em especial, retira imediatamente qualquer vontade de um mergulho ou outra qualquer actividade náutica. Á esquerda, a já habitual cordilheira montanhosa e o que penso serem as abas da Sierra Nevada a rasgar o céu.