04 fevereiro, 2010

Faro - San remo - Faro...................continuação 12


A fome ia já apertando, por isso decidimos que antes de qualquer outra coisa ia-mos procurar um sítio para jantar. A ideia de um arroz á valenciana já vinha de trás, por isso, pará-mos assim que vi-mos um restaurante com esplanada a anunciar o prato a um preço razoável. Estaciona-mos as máquinas mesmo em frente de modo a ficarem ao alcance das nossa vistas, havia espaço para isso, e assim não havia necessidade de descarregar nada, só tinha-mos que dar uma olhadela de vez em quando, não fossem os amigos do alheio lembrarem-se que alguma das nossas coisas lhes dé-se jeito.
O arroz estava divinal e o branco fresco “La Rioja” que o acompanhou não se deixou ficar para trás, apenas o cafézinho é que não estava aquela coisa a que nós como bons portugueses que somos, estamos habituados, até a miúda que nos serviu era bonita e simpática, o Paulo já queria que ela viesse conosco, ela ria-se com um ar envergonhado ao mesmo tempo que lhe respondia que não podia, e das razões que a impossibilitavam, eu observava a cena e ria-me também com as “tangas” que o Paulo dava á valenciana Pilar, de seu nome. De facto, lata não lhe faltava.
As vespas até agora continuavam sem grandes problemas, não falando dos travões do Paulo nem do meu cabo de embraiagem, o ultimo que lhe montara continuava sem dar mostras de querer ceder apesar de tudo.
Ficou decidido durante o jantar, aproveitando o facto de estar uma noite cálida que mais parecia verão, que nesta, ia-mos dormir na praia. Os sacos-cama que trazia-mos iam finalmente ter uso, e além disso, podia-mos também poupar algum dinheiro para o resto. Despedimo-nos da Pilar com o coração aos saltinhos, não sei se por culpa dela ou do “La Rioja”, desejou-nos sorte para o que nos faltava da viagem, e, ou foi da minha vista ou eu vi mesmo uma lagriminha a escorrer-lhe pela face quando acenou.
Arrancámos para estrada já eram dez da noite. As vespas pegaram ambas bem com uma quicada, olhámos um para o outro e rimo-nos com ar confiante, o trabalhar redondinho e sem oscilações de rotação mantinha-se inalterado em ambas as vespas, e assim, arrancámos dali de estômago e coração cheios, á procura da primeira praia onde parar para prenoitar.
Logo á saída de Valência reparámos numa indicação para a direita, “Playa de la Patacona”, o Paulo que ia á frente na altura divergiu para lá e eu fui a trás. O nome desta praia tinha algo de similar com o de uma terra próxima á nossa Faro que se chama Patacão, até costuma-mos brincar com o nome que se dá ás meninas originárias dessa localidade.
Chegá-mos a um sitio amplo e arenoso na orla da praia, não via-mos mas ouvia-mos o marulhar das ondas na areia, fizemos sinal de ok um ao outro e ali abancámos. Devia-mos estar a uns 50metros se tanto da água, e o céu, que estava completamente limpo de nuvens, mostrava-nos agora a grandeza infinita do universo através dos milhares, talvez milhões de pequenos pontos de luz a que chama-mos estrelas. Aconchegados nos sacos-cama com as vespas por trás a proteger-nos do vento e a garrafa do medronho entre nós, filosofá-mos sobre imensas coisas durante quase uma hora, o dia seguinte, as avarias, a Pilar e o universo. Adormeci a olhar o céu e depois de ter exclamado qualquer coisa a respeito da imensa sensação de liberdade que estava a sentir naquele momento.

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